quinta-feira, dezembro 27, 2012


inalcançável. o que não pode ser alcançado.

parte de mim. já partiu. meia parte. da parte que ficou. ainda pensa em partir. e a outra parte. há muito que desistiu. de o fazer. assim. despedaçado. e em partes iguais de pesos diferentes. resta-me. o corpo para saber. onde estou. e não chove. como chovia antes. nas tardes. fechadas ao meio-dia. onde nem os passeios se viam. com tanta água. e os passos se confundiam. com as pedras da calçada. e não sabiam para onde iam. eu. não sabia para onde ia. 

e agora. ainda não sei. para onde vou. mas já não chove como chovia antes. onde as tardes. se fechavam ao meio-dia. e os cafés se enchiam de gente. como uma chama de um fogo se enche de centelhas. e todos falavam alto. e escutavam as conversas uns dos outros. e no fim. ninguém se ouvia. e quase ninguém. sabia o que queria dizer. com aquelas palavras. negras. 

e ainda hoje. não sabem. o que querem. nem eu sei. o que quero e para onde vou. e sento-me. a ver um fogo a arder. a madeira. a revoltar-se contra o fogo. que a come. e o fogo. a morder a madeira. que a odeia. e juntos. nessa luta desigual. fazem-me juntar as mãos para aquecer. a parte do corpo. que já nem é metade. do que foi. nem parte do que ainda comigo está. e assim. faço. para me esquecer. que tudo o que sei e quis. não passa. de um fogo moribundo. a arder. sem fim. 

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