.I.
passo. e nem sequer reparo. que piso todas as folhas que as árvores deixaram cair. quando a luz meio-apagada do sol. fez o dia terminar. e vou fintando o frio. acagaçado e mortiço. e faço corações. com o bafo quente que vem de dentro de mim. directamente do meu coração. até à rua. e penso. como serão os corações de verdade.
aqueles que palpitam dentro de cada um de nós. desde do primeiro momento. até àquele dia. sem memória. aqueles que se agitam. e se ouvem à noite. naquele lugar escuro em que dormimos. aqueles que correm quando. nos perdemos por alguém. como aquele coração. que já mora dentro do nosso. coração. e nem é preciso andar. para o ver. e nem é preciso sair de dentro dele. para o encontrar.
um coração de verdade. não existe. digo. um coração de verdade. se existisse. cabia dentro de mim. e dentro de mim. apenas existe um coração. que faz corações com o calor. que nele se agita e se consome. ou então, sou eu. que sou pequeno demais para um coração de verdade. e dentro de mim. apenas cabe um coração que me faz mover as pernas. nesta noite fria. de escuridão amarelada. e penso. que é melhor deixar de pensar em ter um coração de verdade. porque não não saberia o que fazer com ele.
...
.II.
é melhor. deixar arder. um pouco mais. este pedaço de vida.
duas mãos não chegam.
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