quinta-feira, novembro 22, 2012

.I.

não cheguei ao fim. e fiz de tudo. para que o fim. fosse aqui. agora. hoje. e a esta hora. em que sei que o mundo dorme. inquieto. e as luzes das ruas. reflectem sobre. as poças. no chão. toda tristeza que dia ditou. e a chuva que faz tremer. o balanço quieto. daquele lugar de água e revira-se para dentro. em raiva. e assim. a mudez encaixa-se no corpo. daquela estrada. e nada se vê. tão-pouco. apenas aquela escuridão amarela dos candeeiros. a morrer. 

passo. e nem sequer reparo. que piso todas as folhas que as árvores deixaram cair. quando a luz meio-apagada do sol. fez o dia terminar. e vou fintando o frio. acagaçado e mortiço. e faço corações. com o bafo quente que vem de dentro de mim. directamente do meu coração. até à rua. e penso. como serão os corações de verdade. 

aqueles que palpitam dentro de cada um de nós. desde do primeiro momento. até àquele dia. sem memória. aqueles que se agitam. e se ouvem à noite. naquele lugar escuro em que dormimos. aqueles que correm quando. nos perdemos por alguém. como aquele coração. que já mora dentro do nosso. coração. e nem é preciso andar. para o ver. e nem é preciso sair de dentro dele. para o encontrar. 

um coração de verdade. não existe. digo. um coração de verdade. se existisse. cabia dentro de mim. e dentro de mim. apenas existe um coração. que faz corações com o calor. que nele se agita e se consome. ou então, sou eu. que sou pequeno demais para um coração de verdade. e dentro de mim. apenas cabe um coração que me faz mover as pernas. nesta noite fria. de escuridão amarelada. e penso. que é melhor deixar de pensar em ter um coração de verdade. porque não não saberia o que fazer com ele. 

...

.II.

é melhor. deixar arder. um pouco mais. este pedaço de vida. 
duas mãos não chegam. 

...