XXII
bocejas. passas as mãos pela cara e prendes o cabelo com um gancho tosco que encontras na mala. quase que sinto o teu cheiro. daqui. as tuas mãos docemente rugadas nas pontas dos dedos. e onde só os meus dedos cabem no meio dos teus. os teus olhos de sono. bocejas novamente. fechas e abres os olhos. fazes-me uma pergunta. eu respondo. franzes a testa. mordes o lábio. e eu. vejo o teu lábio a torcer sobre a força do teu gesto. mordo o meu também. por simpatia. não. para sentir o mesmo que tu sentes. quando mordes o teu lábio. é como se mordesses o meu também. olho-te. assim. ao longe. escondido entre a sombra da parede e a textura desfocada da tua miopia. agora mordes o dedo. com a firmeza desencontrada dos lábios. eu beijo-te daqui. e não sei se tu sabes. que te estou a beijar.
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